domingo, 24 de junho de 2012

ATENÇÃO COMPOSITORES! VAI COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ... Sinopse da Mangueira para 2013


G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
SINOPSE DO ENREDO
Ideia Original e Carnavalesco: Cid Carvalho
Pesquisa e Texto: Marcos Roza

"Cuiabá: Um Paraíso no Centro da América!"

Ouçam o apito da sirene que indica que o trem verde e rosa vai dar a partida. Não cuiabanos! Não se trata da máquina de ferro e aço que há 150 anos é esperada ansiosamente; mas, quando a cortina de fumaça dos fogos de artifício se abrir e a penumbra se dissipar, todos entenderão que o sonho é a verdadeira vitória sobre o tempo. Alegrai-vos cuiabanos de tchapa e cruz1 e de coração. O tempo da espera acaba aqui e agora! Todos a bordo, acomodem-se. Olhem através das janelas de suas almas e vejam, a cada estação, a memória cuiabana em desfile.

Por alguns instantes, deixem-se levar pela imaginação; não como alguém que se perdeu no tempo à espera do trem, mas com a sabedoria daqueles que fazem do tempo o combustível que alimenta a esperança.
Estação Primeira: Mangueira.

O trem está em movimento e os músicos mangueirenses fazem rufar a Bateria Surdo Um. Há uma apoteótica celebração de boas-vindas. Personificado na "lúdica permutação dos nomes próprios em apelidos 2", eis o maquinista dos versos: Mestre Jamelão. O nosso eterno intérprete de sambas-enredo dá o tom à memória dos "gênios anjos mangueirenses"- Cartola, Carlos Cachaça, Zé Espinguela, Nelson Cavaquinho, Dona Zica, Dona Neuma, Mocinha, Xangô da Mangueira entre outros, que, juntos saúdam e convidam todos os presentes a embarcarem nesta viagem rumo ao "Paraíso no Centro da América". Partindo da Estação Primeira, o trem mangueirense percorrerá os trilhos da história da "Cidade Verde", a capital do Mato Grosso, e revelará para o mundo, tal qual o antigo sonho de integração, este deslumbrante rincão fincado no coração do Brasil, Cuiabá, também conhecida como a Cidade Verde, a partir de agora, passará a ser chamada de Cidade Verde e Rosa!

Estação: Eldorado.

Como se emergisse das cristalinas águas dos rios, com sua imponente farda, "General Saco", habitante do reino das riquezas, recebe a nossa composição. Celebra nossa presença com a história de fundação de Cuiabá. Nomes havia muitos para a mesma situação: negro sabre, branco espada, índio tacape, flecha e facão. Mas é no garimpo que se miscigenaram, num só princípio de unidade geral, construindo da geração espontânea de cada célula que se agrega e vai dando subsídios ao nascimento de uma consciente e sólida civilização.
Desbravam o fabuloso espaço fluvial-lacustre habitado por criaturas fantásticas,guerreiros indígenas e enfeitiçados pela farta quantidade de ouro encontrada; imaginam-se no cobiçado Eldorado, um lugar onde tudo era de ouro e pedras preciosas, até mesmo os nativos, os bichos, as flores e as frutas, segundo relatos dos próprios Bandeirantes.

Tchapa e cruz é uma expressão regional típica de Cuiabá, que designa o cuiabano autêntico, "puro de origem".SILVA, Freire. Manifesto Mosaico Cuiabano, 1977.2 De invasão em invasão, uma audaz expedição ficou na memória.Pascoal Moreira Cabral escreve a epopeia da nossa história:

Parte à frente de uma Bandeira
E de Tordesilhas
Rompe a linha divisória...
Descobre ouro às margens do Rio Coxipó, Funda, em 1719, o primeiro povoado português, Cuiabá.

Uma só essência! Terra boa e altaneira. Não importam mais os maus tratos de uma fúria transitória, Cuiabá orgulha a pátria brasileira, ostentando imortal passado de glória.
Estação: Mitos e Lendas.

Nossa composição segue pela penumbra das matas... Recebidos por "Antônio Peteté", andarilho de vida pacata e dono de um leque fabuloso, nos conta sobre os causos cuiabanos.

Há muito tempo ouve-se falar na presença de um monstro em forma de serpente, chamado minhocão, que habita o rio Cuiabá. Relatos vão de simples aparições até contatos da embarcação ou táteis com o ser, como tocar a canoa na cobra ou descer em seu lombo, pensando ser terra firme 3. Por esse mundão cuiabano, vaga uma cobra de fogo que assombra as pessoas, conhecida como Boitatá e tem também um velho índio, que se transforma em pássaro encantado ao anoitecer - o Tibanaré. Já nas matas virgens e no cerrado, mora uma criatura que só tem um pé, o Pé-de-garrafa. E se, em uma noite sem lua, você se encontrar com uma mulher vestida de noiva perambulando pelas ruas cuiabanas, afaste-se, porque é o fantasma da Dama de Branco.

Entre lendas e mistérios, quem nunca se arrepiou ao saber, depois de comer a cabeça do pacu, que uma das suas virtudes é ser casamenteiro? Ou quem não saiu em busca de novos desafios à procura da perdida "mina dos martírios"? Pois bem, abençoados pela Mãe d’Água, tudo isso faz parte do nosso imaginário popular. É tudo cultura, como em toda literatura, e cuiabana é a sua assinatura.
Estação: Arte e Sabor

Declamando um poema de amor, lembramo-nos dos tempos de menino... "Joga peteca, salta ioiô", o trem da Mangueira apresenta o artesanato e a culinária brincando com "Zé Bolo Flor".

Quem comeu, comeu...Quem não comeu, Não come mais.

Na cerâmica e no traçado, como em todo o artesanato e no chão simples da rua que a vida chega pra se mostrar, se come, se bebe, se dança, a vida é uma festança em cada feira popular. Expõem nas janelas: redes, mantos, caminhos de mesa, cativando quem passa pra namorar ou comer um doce chamado furrundu, de sabor tão peculiar. E olha que a criatividade não é pouca! Se não pega pela arte, nos seduz pela boca. Haja fome, meu irmão, o cardápio é indicado - nem falo da farofa de banana ou da mojica de pintado. Nem da paçoca de carne seca, muito menos do maxixe recheado - que, aí, seria um pecado. Em Cuiabá, a alimentação é sagrada: come-se de tudo, não tem conversa fiada. Duvido que alguém resista à cajuada, ao arroz de pequi, ou à saborosa cabeça de boi assada.

Estação: Festas de Santos.

Sob o "arco da iluminação", aportamos. Curandeira de mão cheia, "Mãe Bonifácia", organiza o muxirum5 para início dos festejos. Redenção! Goza o povo de um amor à divina celebração. Fazem da crença uma confiança obstinada e, da reza, um canto em homenagem à Festa do Divino Espírito Santo de Cuiabá.

Com a pureza no olhar, pedem a benção a Bom Jesus, o padroeiro do lugar. Em procissão, louvam São Benedito, como crença de sua devoção... Festeiros, esmolas, bandeiras, cerimônias do mastro, procissões fluviais enlaça-nos em tal predestinação. Depois da promessa, não há quem resista à tamanha tentação. Seguem os cortejos da queima de fogos e dançam quadrilha de São João.

Um momento precioso!

Dançam o "São Gonçalo", como parte significativa da religiosidade rural, onde o santo é um deus infinito que lava as dores e enxuga o pranto. Ecoa das violas de cocho, das batidas do mocho e do ritmo do ganzá, a genuína musicalidade cuiabana. No registro do saber, o povo se mistura num tempo puro e sem pecado. Na dança e no canto, quem gira chega dando seu recado - com o cururu, siriri e rasqueado.

Sucede que as festas de santo têm lá seus mistérios... Nelas misturam-se o laico e sacro numa simbiose natural - danças, rezas, músicas, brincadeiras e religiosidade. Inspirados,e bem na hora da partida rumo à próxima estação, chegam os mascarados com suas vestes coloridas, dançando em torno do mastro, o "trança-fitas".

Estação: Portal do Paraíso.

Um momento: siga um conselho e tome fôlego antes de prosseguir. Pronto! Lá vamos nós! Há "tanta vida, tanta história, que não foge da memória a fonte de tanta beleza. É a terra, é a gente, é tudo aquilo que Deus criou e que se chama natureza". Designação local de mutirão.

Mareja-nos o olhar ao avistarmos um místico mosaico geometrizante: ferruginosas franjas das bordas dos desfiladeiros, misteriosas cavernas e inscrições rupestres reveladas em sítios arqueológicos, cachoeiras de águas cristalinas e até mesmo um casal de araras vermelhas sobrevoando o céu, fazem da Chapada dos Guimarães um louvor à obra do Criador.

Adiante, uma revoada de tuiuiús - ave símbolo do Mato Grosso - nos conduz a um passeio pela fascinante biodiversidade e à extraordinária vida selvagem do Pantanal. Se alguém ainda acha pouco para justificar a alcunha de "Um paraíso no centro da América" a Cidade Verde ainda se dá ao luxo de ser o Portal da Amazônia! É neste cenário paradisíaco, de odores edênicos, que a Mangueira canta e se encanta:

Glória aos teus tesouros,
Ao teu cintilante céu azul!
Bendita sejas, terra amada.
Cuiabá, tu que és do meu Brasil a pérola engastada
Em pleno coração da América do Sul.
Estação: Mandem lembranças ao Futuro!

Chegamos a nossa última parada e imediatamente uma negra esguia e defensora de nobres ideais ergue a voz e diz: Olhem pra frente e além dos muros, Cuiabá é uma cidade a caminho do futuro! É a "Maria Taquara".

"O conto que a gente canta é a história que o povo faz". Cuiabá reinventa-se como recanto laborioso de seu povo, o mesmo povo de espírito comunitário, que ficou isolado durante anos das principais capitais do país e tornou-se adulto, podendo ser criança. Da lembrança dos "quintais com mangueiras", de tomar guaraná ralado à beira de um córrego à sombra de um acopari, de soltar "pandorga6", "finca-finca", "busca-pé" e "trique-trique" com a boca suja de pixé7, erguem-se, nessa terra de sol escaldante, indestrutíveis riquezas, tecnologias inquestionáveis à frente de sua crescente economia.

Cuiabá é a "cidade das oportunidades" que se desenvolve combinando tradições com progresso. Desta terra emana uma energia contagiante... Feita, sobretudo, da confiança no futuro e do calor humano bordado na alma de sua gente. Todos juntos por Cuiabá: evidenciam a sua crença e preservam a esperança de continuidade de uma cidade que continuará evoluindo e atendendo às necessidades de todos os que vivem nela.

Unida e de braços dados com a Mangueira, se orgulha e se prepara para receber o maior evento esportivo do planeta: a Copa do Mundo de 2014. Multiforme e heterogênea, nos deixa o legado de que o futuro é aqui. Suplantada por "alegorias-indústrias" descobre a fórmula mágica para sua industrialização: a sustentabilidade! Não à poluição, compromisso desta nação.

O final da nossa jornada sempre será o início para os que têm sensibilidade.

Cid Carvalho, carnavalesco.
Marcos Roza, pesquisador de enredos.

Empinar pipas.
Pixé: doce de milho torrado socado com canela e açúcar.5
Bibliografia Consultada: BORGES. Fernando Tadeu de Miranda. Esperando o Trem - sonhos e esperanças de Cuiabá, Ed. Scor Tecci; 2005.
FREIRE. Silva. Manifesto Mosaico Cuiabano, 1977. FREITAS. Márcia Auxiliadora de. Cuiabá: imagens da cidade, dos primeiros registros à década de 1960, Entrelinhas; 2011. GUIMARÃES. Lauristela. Organização. Cuiabá: Cidade em Evolução, Ed. Primeira Página; 2011. MARTINS. Moisés. Cuiabá de Vila a Metrópole Nascente, Caderno 1; 2006. ROBERTO. Loureiro. Cultura mato-grossense: Festas de Santos e outras tradições, Ed. Entrelinhas; 2006. SCALFF. Ivens Cuiabano. Kyvaverá, Ed. Entrelinhas; 2011. SILVA. Paulo Pitaluga Costa e. Cuyaverá, Cuiabá: a lontra brilhante, Ed. Carlini e Carniato; 2007.

Agradecimentos:
Francisco Belo Galindo Filho (Prefeito de Cuiabá), Sílvio Fidelis (Secretário de Governo), Carlos Britto (Secretário de Comunicação), Luiz Poção (Secretário de Cultura), Tânia Aparecida Barteli (Secretária de Turismo), Carlos Haddad (Secretário Adjunto de Turismo), Fernando Biral (Procurador Geral), Regina Kaizer (Secretária de Assistência Social e Desenvolvimento Humano), Caique Loureiro, Hugo Monteiro, Dona Domingas, Larissa Silva Freire, Cleyton Normand da Fonseca (UFMT), Márcio Bororo, Maria Teresa Carrión Carracedo, Elizabeth Madureira Siqueira (IHGB), Professor Leonam Lauro e a todos os cuiabanos e mato-grossenses que contribuíram com ideias, dicas e apoio para esta iniciativa.

sábado, 23 de junho de 2012

ATENÇÃO COMPOSITORES! VAI COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ...Sinopse do do Salgueiro 2013



"FAMA"
Carnavalesco:Renato Lage

Num dia perdido na Antiguidade
Um cara sacou com sagacidade
Que o tempo passa e a vida é breve
- Vou deixar a minha marca
mesmo que ela seja de leve
Então daraõ faz da tumba moradia
Vestiu-se de múmia, a sua fantasia
E assim se tornou peça de museu,
Atua no cinema pra dizer que não morreu
A Fama atrai os conquistadores
O Grande Alexandre cortejou os escritores
Mandou os poetas divulgarem o que ele fez
E assim na história ele teve a sua vez
Ora se esconde, ora se revela
A máscara no rosto é uma interrogação
Não sei se a mocinha é princesinha bela
Se diz uma mentira, e tem cara de fera!
E lá na Europa, um nobre de bom trato
Chamou o pintor pra fazer o seu retrato
e Luís Quatorze entrou pra galeria
E o três por quatro ganhou a freguesia
É muito importante saber que eu existo
Os Beatles seriam mais famosos do que Cristo?
John Lennon pirou numa onda brava
Tem caras tão famosas quanto
a foto de Che Guevara
Calma Beth! Não vou jogar confete
Eu vou criticar você e lançar na internet
Se quer estar bem na foto tipo modelo fashion
que tal umas comprinhas no photoshopíng?
boca, olho, nariz e "mucho más"
você vai se transformar numa sereia TOP!
Deixe que a fama te leve e afama
Deixa ela falar, que é que tem
Vou brilhar
Eu estou fazendo tudo para aparecer
Que tal bater a foto assim juntinho com você?
Há mais de vinte anos
Já conto as linhas do tempo
Minha marca já deixei, e com isso me contento
Fama que não se contesta
Já virei "arroz de festa"!
Mas é preciso ter cautela
Pra "mosca azul" não te picar
Porque na vida é assim
Um sobre e desce sem parar
e na televisão, na revista ou no jornal
A fama disputa lugar no carnaval
Apenas, diferente, eterno e guerreiro
Quem corre mundo afora é a fama do Salgueiro!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

ATENÇÃO COMPOSITORES! VAI COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ... Sinopse da Imperatriz Leopoldinense para 2013


PARÁ - O MUIRAQUITÃ DO BRASIL
Carnavalesco Cahe Rodrigues em parceria com Mário Monteiro e Kaká Monteiro.

"Sob a nudez forte da verdade, um manto diáfano da fantasia."
(Eça de Queiroz)

Bateu com o pé direito no chão com mais força, depois cuspiu para frente!
Pronunciou duas ou três vezes com voz rouca:
Hê, hyá, hyá, hyá, e seguiu dizendo:
Cúara tece o inicio do dia
É de manhã!
O oby tinge a retina dos olhos de quem vê
Chocalho de cobra, onça pitada, ariranha, garça branca e guará!
Cheiro de mato.
É o Uirapuru quem canta primeiro.
Levo as mãos à pedra verde: Dê-me a sorte oh Muiraquitã!
O ibitu sopra o destino das águas
Faz o verde do aningal se apekúi
Por de trás da folha verde se vê o povo Tupinambá!
No corpo, seu manto sagrado de pena
Na alma, a incorporação do poder de um gavião real!
Festança de índio, dia para ritual!
É Karajá, Tapajó, Kayapó, Arara, Araweté, Munduruku e Assurini.
Sou morubixaba de tudo que se vê por aqui!
No verde encontrei riqueza, "jóia" de índio!
A riqueza que "karaiba" gostou:
O sabor do açaí, a fibra do cupuaçu, tucumã, taperebá e bacuri.
Peixe do rio, caroço da inajá!
É meu, mas eles querem!
A cobiça cruza nossas águas em barco grande
Os olhos do Mapinguari vê
A boiúna faz as águas se apekúi
É gente que chega! Gente de todo canto
A taba pinta o corpo pra luta
Tupã faz o céu roncar!
Tá guardado no seio da natureza a riqueza que eles procuram
De tudo um pouco eles querem levar
Do ouro da serra à seiva que escorre
da ferida no tronco da árvore
Faz seus olhos brilharem!
A "fortuna" que a borracha do tempo ainda não pode apagar!
Tá aqui até os dias de hoje
Em fachada de casa
Em cristal de lustre que "alumeia" a beleza do theatro.
Até hoje é assim!
Pra falar de riqueza pelas bandas daqui,
tem que voltar pra floresta
O dono da terra é quem ensina como é que faz
pra lidar com a natureza
Pois é dessas matas que as sementes colhidas
vão enfeitar outros chãos.
Dar adeus a floresta nativa, ser polida, jóia cabocla...
sonho de artesão.
Nesse dia, quando o homem aprender com a gente daqui,
a natureza respeitar
Todo povo vai sair na rua pra cantar.
Nas terras do Marajó, Santarém ou em Belém.
Nossa gente vai festejar:
Traz jambú, camarão seco, tucupi e mandioca.
Oferta a toda gente o tacacá!
Leva o Boi pra rua
Faz festa pra saudar o Boto!
Põe a Marujada pra dançar!
Saia de roda e estampa florida
Roda menino, gira menina
Canta a ciranda mais bonita
Dança o Carimbó e o Siriá!
"Treme" o Povo do Pará!
O artesão fez a sua peça mais bela para ofertar:
Cestaria, cerâmica, um trançado de juta
Da cabaça ele fez cuia, do Miriti arte para brincar!
O Romero ergue as mãos
Fita com os olhos o azul que tinge o céu.
A santa ouviu a prece do caboclo:
Outubro se faz agora!
Meu povo já está na rua
Do altar do carnaval se avista o andor e a berlinda florida
A voz do povo faz o canto ecoar mais uma vez
Quem pede é o folião,
Por hoje, romeiro de fé:
Oh Santa!
Dai-me nas Cinzas desta quarta-feira,
O caminho para mais uma vitória
E uma alegria para a vida inteira!
O Pará, seu sabor, seu cheiro, sua gente, suas tradições,
estão na Avenida.
É a Imperatriz quem lhe apresenta aos olhos do mundo:
No futuro, um exemplo a ser seguido.
Carnavalescos:
Cahê Rodrigues, Kaká e Mario Monteiro
Pesquisa e texto:
Cahê Rodrigues e Leandro Vieira
GLOSSÁRIO:
Hê, hyá, hyá, hyá - Canto tupinambá
Cuara - sol
Oby - verde
Ibitu - vento
Apekúi - alvoraçar
Morubixaba - cacique, chefe da tribo
karaíba - homem branco
Mapinguari - Mapinguari tem o corpo todo coberto de pelos, com a aparência de
um enorme macaco. Possui um único olho na testa e uma boca gigantesca que se estende até a barriga.
Boiuna - Cobra grande
Taba - Aldeia, Lugar
Muiraquitã- Espécie de amuleto da sorte para os índios
Kayapos, Mundurucu,Asirini, Tapajós, Tupinambás:
Tribos Indígenas
O Aningal - é uma plantação característica das ilhas aluviais dos rios amazônicos, principalmente às margens dos rios e igarapés amazônicos.
Cupuaçu,Tucumã, Bacuri, Taperebá - Frutas da região
Jambú - É uma erva típica da região norte do Brasil, principalmente região amazônica e no estado do Pará.
Tucupi - É um tempero e molho de cor amarela extraído da raiz da mandioca.
Tacacá - É uma iguaria da região amazônica brasileira, em particular do Pará.
O Síria - Dança brasileira originária do município de Cametá, localizado no estado do Pará.
O Carimbó - A mais extraordinária manifestação de criatividade artística do povo paraense, misturando dança e canto.
A Marujada - Uma das mais belas manifestações religiosas do folclore paraense.
O "Treme" - é o mais recente ritmo do Pará. Uma mistura de música eletrônica misturada a outros ritmos populares do estado.
Berlinda - Espécie de cúpula que leva a nossa Senhora do Nazaré no dia da procissão.

domingo, 17 de junho de 2012

ATENÇÃO COMPOSITORES! VAI COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ... Sinopse da Inocentes de Belford Roxo para 2013.



"As sete confluências do Rio Han"
"A água me contou muitos segredos
guardou meus segredos
refez meus desenhos
trouxe e levou meus medos"

Caetano Velloso

O G.R.E.S. Inocentes de Belford Roxo tem a honra de abrir o maior espetáculo da terra, apresentando o enredo "As sete confluências do Rio Han". Conta com a proteção de Yondung Halmoni, a Deusa do Vento, e o desejo de águas calmas para fazer fluir sua história, acompanhada do bater dos tambores Buk e Janggu, que vêm dar acento a nosso samba. A escola traz as tradicionais moradas coreanas, as hanoks, e o maravilhoso palácio Gyeongbokgung adornados com flores tropicais e matizados pela cultura brasileira, representando a acolhida aos coreanos que há 50 anos vem imigrando para o Brasil. Vai contar 5.000 anos de história em uma saga poética e ilustrando algumas décadas da jovem nação que surpreendeu o mundo com seu avanço, crescendo com a força de um tigre. Vai entrelaçar passado - marcado por batalhas, resistência e luta, presente - com a afirmação de uma nova identidade - e o futuro que se afigura brilhante, no ritmo das águas e ao sabor das marés. Vai buscar no fundo das águas a força das mulheres mergulhadoras, as haenyos e vai contar o recomeço desta antiga nação, bela e resistente como sua Rosa de Sharon, a Mungunghwa, flor símbolo da Coréia do Sul.

O homem é resultado das gerações que o precedem, de um longo processo acumulativo que desenha seus traços e molda sua cultura. Mas é um ser mutante, cuja vontade leva ao crescimento e às mudanças, ele domina seu destino, reverte caminhos, traça novos rumos para si. Assim é a Coréia, uma nação que decidiu mudar, escolheu um futuro para si e transformou-se radicalmente em um curto intervalo de tempo.

No Brasil a crescente colônia coreana trouxe a riqueza de suas tradições e moldou-se ao país da antropofagia. A bordo do gigante navio holandês Tjitjalenka, os primeiros coreanos trouxeram seus sonhos de prosperidade. Navegar é neste sentido uma construção de ilusões. No Bom Retiro brasileiro a saudade e a esperança se encontram, a caminho da Liberdade. Nestes pontos a colônia se concentra para manter vivas as tradições dos homens que tem Hananim no coração

O enredo da Inocentes flui como a água, usando a tradição e a contemporaneidade para mostrar a riqueza dual da nação. De forma lúdica vamos desdobrar cultura, religião, indústria e progresso como aspectos confluentes de um mesmo povo. Rituais, danças, alegorias, cores e sons peculiares vão contribuir para a personificação da Coréia na Marquês de Sapucaí.

Vão rufar os yengos invocando os espíritos e abrindo a dança para os céus - o calendário lunar avisa que é dia de festa para celebrar a boa colheita. A colheita que para nós é um belo desfile.

As tradições milenares e a nova tecnologia se unem com a benção de Maytreia e a combinação dos traços dos povos que compõem um mosaico de cores e tons que simbolizam mais do que a unificação de bandeiras, reinos, dinastias, tradições. A soma é maior que as partes. O movimento das águas mistura e purifica. Suas correntes não aprisionam, libertam para a utopia que veleja entre o real e o imaginário, confluindo neste Rio de Janeiro, a cidade do Maravilhoso, que tem também a sua mistura, de ginga, paixão e fé, que orienta o Brasil.

Carnavalesco - Wagner Goncalves
Pesquisa e texto - Roberta Alencastro Guimaraes e Wagner Goncalves

ATENÇÃO COMPOSITORES! VAI COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ... Sinopse do Arranco do Engenho de Dentro para 2013.


SINOPSE:

"BOCA DE CENA"

O GRES Arranco do Engenho de Dentro abre as cortinas da folia para apresentar na avenida uma nova montagem de um espetáculo vibrante, com seleto elenco das diversas linguagens teatrais.

Configuradas como um grande painel de magia e esplendor, várias facetas da boca de cena serão apresentadas sob a ótica do folião do nosso Carnaval, que se deliciará num caleidoscópio de emoções.

Nossa Boca de Cena em desfile é um convite à sedutora tentação de reinventar deliciosas histórias que nos foram apresentadas ao longo dos séculos, de tentar mudar o rumo dos fatos e até mesmo de visitar o inexorável futuro.

Com as bênçãos de Dionísio, deus do teatro, a avenida, iluminada e festiva, num grande palco de alegria vai se transformar.

Numa bem ensaiada e divertida montagem teatral, subirão ao palco da folia personagens incríveis que povoam a imaginação e mexem com a emoção dos espectadores.

Hábeis na arte de improvisar, Arlequins e Colombinas apaixonados dançam ao som do samba para representar a Comédia dell’arte, em divertidas performances acrobáticas e pantomímicas.

Sem a pretensão moralizante, farsantes caricatos do teatro cômico medieval adentram a cena para satirizar fatos do cotidiano e arrancar do público gostosas gargalhadas.

Companhias teatrais mambembes chegam de todas as partes em suas carroças enfeitadas trazendo suas trupes para se juntar à nossa grandiosa produção. Representando peças cômicas ou dramáticas, vão encantar a plateia com seu esmerado figurino e singelos cenários.

De olhinhos puxados, desembarcam no nosso democrático palco representantes do importante teatro japonês. Atores das modalidades Nôh e Kabuki se exibem interagindo com o público e usando máscaras belíssimas com muita música, dança e mímica.

Sob um tênue foco de luz, uma angustiada cantora careca que se comunica com dificuldade e os semipalhaços Vladimir e Estragão esperam ansiosos pela ajuda de Godot que nunca chegará. Neste ato, entra em cena o absurdo do teatro, momento em que são encenadas situações chocantes e disparatadas, onde a falta de sentido constitui o próprio sentido da realidade retratada.

Também participam de nossa encenação carnavalesca memoráveis artistas que brilharam no teatro brasileiro de Revista. Carmem Miranda, Elvira Pagã e as sensuais e voluptuosas vedetes têm entrada triunfal cantando e dançando para delírio da assistência.

Mãos habilidosas fazem aparecer no palco vários tipos de bonecos articulados para animar nosso espetáculo. Essa variedade cênica composta por fantoches,marionetes e mamulengos, cuja destreza de seus manipuladores impressiona,têm o poder deencantar gerações, tocando-lhes o coração com a singeleza das histórias apresentadas.

Sombras provenientes de mãos adestradas ou por silhuetas de papéis recortados sob a luz dão formas a protagonistas inusitados que falam, cantam e dançam. Originária da China antiga, essa modalidade cênica lembra aquela típica brincadeira de criança de criar bichos em movimento com as sombras das mãos entrelaçadas.

O teatro feito para a criançada é repleto de criatividade para aguçar o imaginário e a fantasia da garotada. Personagens marcantes dos contos de fadas e das fábulas, na eterna luta do bem contra o mal, ganham vida para alegrar os pequeninos. As risadas genuinamente inocentes são o que há de melhor numa peça infantil.

Máscaras de tipos diversos, maquiagens de efeito, figurinos deslumbrantes, cenários de pura emoção, iluminação vinda da alma e tantos outros elementos cênicos dão vida a tantas tipologias teatrais e seus protagonistas em nossa imponente apresentação carnavalesca.

Na boca de cena transgressora, um turbilhão de ideias a cultivar. Com certeza, o público vai sair da passarela mais leve e feliz, alimentado da boa arte teatral montada com muito carinho por nossa escola.

Não importa se criança ou gente grande, o teatro faz viajar, imaginar, emocionar, divertir e rende muitas histórias. Semente do saber, arte de ensinar. É a representação alegórica da vida, onde tudo pode acontecer. Basta apenas acreditar e sonhar!

Toca a bateria maestro! O espetáculo vai começar!
Desfile teatral: Boca de Cena
Direção: Tatiana Santos
Concepção, direção, cenário e figurinos: Severo Luzardo Filho
Pesquisa e adaptação textual: Julio Cesar Farias
Produção: G.R.E.S. Arranco do Engenho de Dentro
Local: Palco da folia da Intendente Magalhães
Duração: 50 minutos
Data: apresentação única no dia10 de fevereiro de 2013
Valor do ingresso: sorrisos e aplausos
Censura: livre para todos os foliões

quinta-feira, 14 de junho de 2012

ATENÇÃO COMPOSITORES! VAI COMEÇAR OUTRA VEZ.... Sinopse da Caprichosos de Pilares para 2013


Sinopse

Fanatismo... Enigma da Mente Humana
Carnavalesco: Amauri Santos
Pesquisa, desenvolvimento e texto: Marcos Roza

Feito que ninguém antes achava ser possível: um "neurochip" agora é capaz de monitorar conversas entre células do cérebro... Curiosos! Personificamos o diálogo de uma rede de neurônios, numa linguagem carnavalesca, revelando os mistérios da mente humana.

Entremos:
Tudo arquitetado minuciosamente.
Um suposto silêncio é interrompido! Numa forma poética, os hemisférios nos põem à prova, entre descargas elétricas e químicas tudo se renova.

Um tom? Uma voz?
Vozes! Ora fácil, ora sério, cada vez mais perto de descobrir o grande mistério...Esplêndido.

Lá estão eles.

Entre assuntos diversos, numa complexa rede de diferentes sistemas, na única sede de controle, o enigmático encéfalo, discutem sobre as inúmeras diferenças existentes entre cada pessoa.
O que é o poder da mente humana?

Questionam, em tom de protesto.

Do hemisfério direito, responsável pelo pensamento simbólico e criativo, pronuncia-se, talvez o mais antigo dos neurônios:

O homem se equilibra no fio do seu pensamento, sem que tenha asas, voa, e, sem limite, se aventura, segue à toa e, se possível, até sua identidade leiloa. Devemos orquestrá-lo como um ser que sente, pensa e age, quer pela razão, quer pela emoção ou fé.

Começávamos a entender o comportamento humano como retrato das suas interrogações sobre a vida, o cosmos e a sua percepção do real e irreal. "Equilibrista, o homem se apodera dos seus sonhos, elabora, passa o mundo em revista", seu conteúdo ri, chora, conquista...

Um momento precioso.

Falam da origem do Homem!
Surgiu da ação divina!

Não! É fruto da evolução biológica do Homo Sapiens...

Categórico e controlando os ânimos, outro velho neurônio - manifestando-se do hemisfério esquerdo, responsável pelo pensamento lógico, intervém:

Seja como for, o fato é que homem surgiu e, com ele, mesmo que numa categoria primitiva, vieram os símbolos, gestos, desejos e formaram-se cenários onde atuam e registram sua presença no tempo, através de comportamentos comuns ou não em várias civilizações e culturas.

Conduzimos tudo o que passa com esses seres: biologicamente são iguais, quimicamente as reações orgânicas são as mesmas e de forma estrutural são idênticos. Mais o que demarca as diversas motivações psíquico-emocionais dos seres humanos, como forma de adoração ou de crenças absolutas, que os levam a desenvolver algum tipo de fanatismo?

O velho neurônio se senta e segue sua explanação na tentativa de desvendar este grande enigma:

O homem cria mitos, superstições ou ritos mágicos em torno de uma existência sobrenatural, inatingível pela razão, equivalente à crença num ser superior e ao desejo de comunhão com ele.

Sua primeira aspiração fanática é o culto ao Sol. Nele, revela sua alegria de viver: caça, organiza-se, protege-se do frio e personifica o Sol, atribuindo-lhe a sua própria imagem na tentativa de aproximá-lo do seu cotidiano.

Segue-o... E na lúdica permutação dos nomes próprios em deuses, o denomina "rei dos céus" (herói solar): Adônis, Freyr: soberano do reino da luz, Hórus:deus do horizonte, da terra onde nasce o Sol, Mitra: divindade indiana, Sol Vencedor, Huetsilopochtli: deus asteca, associado à alma dos guerreiros que acompanham o Sol em suas rondas diárias no céu, entre outros.

O medo do desconhecido e a necessidade de sobrevivência estreita seus laços afetivos. Recria seus mitos. Usando-se dos saberes inexplicáveis: vida e morte, riqueza e sofrimento, luz e trevas, seus rituais assumem um papel cultural, além de aspectos mágicos e religiosos.

Estabelecem cerimônias, cultos, sacrifícios e da forma mais diversa promovem todo tipo de oferendas e libações, seguido de cantos, danças, banhos de ervas, instrumentos, adereços e fundamentos, como conceito original de suas crenças.
Assim, a significação ritualística do homem primitivo avança entre a descoberta do fogo no período paleolítico, os ritos de procriação e fertilidade humana das diversas tribos africanas, os de contemplação da morte, como dos índios bororos - primeiros habitantes das terras mato-grossenses - até as crendices e supertições que deram origem às simpatias de um povo divertido denominado "brasileiro".

Flashes de luz! Um neurônio é atingindo por estímulo externo, chamado "amor" e, como uma faísca correndo numa trilha de pólvora, a mudança de voltagem viaja pelo seu axônio. Neurotransmissores entram em ação! Ativam o sistema de recompensa do cérebro, causando, entre outros efeitos, a sensação de bem-estar, de prazer e de paixão. Tudo acontece ao mesmo tempo... E o velho neurônio discursa sobre a relação de entrega absoluta dos seres humanos ao amor.

Ao longo dos séculos, muitas relações provam a fanática tendência do homem pelo seu objeto de desejo, de viver um grande amor a qualquer custo. Misturando fantasia e realidade o amor acontece... Exaltam das histórias românticas Cleópatra e Marco Antônio, amantes que, sob laços obsessivos, eternizam suas paixões através do suicídio, em nome do amor. A saga amorosa da rainha de Sabá, que atravessa o deserto em busca de novos conhecimentos e se apaixonapelos sábios encantos do rei Salomão e tantas outras paixões...

Histórias de amor são mesmo imprevisíveis e superam todas as barreiras. Haja vista as "estórias" de Cornélio. Aquele sujeito que diz: o amor é tão puro que a traição é algo que não alcanço... É! O amor é cego, enquanto o outro "afoga o ganso", entre quatro paredes frequentemente e sem descanso, lá vai ele exibindo seu chifre de "corno manso".

Tórridos romances transcendem de comportamentos incomuns - telefonemas compulsivos, serenatas, gritar dos telhados, ciúmes, perseguições e ganham uma vasta produção romanesca. No espaço literário, tudo é possível. O amor é trágico, intenso, apaixonado, eterno e fanático.

É na literatura que Medéia envenena seus próprios filhos, para vingar-se de Jasão por não corresponder o seu "fanático amor" por ele. Tristão e Isolda bebem um tipo de licor, um elixir, que os torna inadvertidamente ligados por um amor indissolúvel. Conhecemos a tragédia amorosa do Conde, que volta da guerra e descobre que sua amada, julgando-o morto, havia se suicidado. Revoltando-se contra Deus, torna-se um ser amaldiçoado: o Conde Drácula. E a bela história de amor de Romeu e Julieta, proibidos de vivenciar sua experiência amorosa mediante a rivalidade de suas famílias, vão até as últimas consequências para manter acesa a chama de suas paixões.

Sofrimentos, desencantos, solidões, tudo aliado a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade provocam uma convulsão interior transbordante de poesia à natureza do homem... Como se o poema de Florbela Espanca fosse sussurrado em nossos ouvidos:

"Minh’ alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida"!

Na linha do tempo, a dialética deste sentimento impressiona: da vida real para os romances, dos romances para a vida real. Dão alento aos comuns corações, que batem por um toque especial, por uma troca de olhares, por um beijo terno quepare o tempo!

O ser humano sempre seguirá desejando um amor duradouro, eterno, até que a vida os separe. Um amor com "definição de quero, sem lero-lero da falsa sedução". Salve Jonh Lenon e Yoko Ono, Salvador Dali e Gala, Jorge Amado e Gattai e tantos outros, que disseram não à "constituição dos séculos que diz que o "garantido" amor é a sua negação".

Por um instante, temos a impressão de que tudo para de funcionar! Mas estávamos enganados. Era um impulso nervoso, do tipo tudo ou nada: ou você acredita ou não acredita, não havia meio termo. Algo que poderíamos chamar de "ideia fixa".Como é feito em discursos monológicos, o nosso velho - e conhecido - neurônio prega sua palavra aos "fiéis", atentos e curiosos, "neurônios companheiros".

Um "sentimento oceânico" invade a alma das pessoas, tornando-se uso e transformando-se em marca de uma febre fanática em diversos campos da vida social. Tal febre, cuja paixão e adesão, historicamente associadas a motivações de natureza religiosa, nacionalista, política, cultural ou esportiva, cria uma sensação de liberdade nos seres humanos quando aceitos por um determinado grupo ou para experimentar uma "nova vida".

Como filhos de suas verdades absolutas ou crentes do fervor excessivo, irracional e persistente por qualquer coisa ou tema, os sintomas existentes nos nobres medievais não me deixam dúvidas de que são fanáticos: acreditavam na presença de Deus no centro de tudo e pagavam dízimos altíssimos visando um lugar no céu; como não pensar o mesmo do parafrênico Hitler e sua absurda ideia de supremacia da raça ariana e a eliminação dos "impuros"? E daquela gente sofrida, que tudo que tem na vida é o sacrifício da promessa cumprida? Que crê num misticismo religioso, num deus de carne e osso: "Padim Pade Ciço". Sai gente de tudo que é canto, devoto, promesseiro, romeiro, pra pedir a benção do tal pastor de Juazeiro.

Na bonança, todos - homem, mulher, idoso e até criança - têm absoluta confiança, cantam em romaria e admiram o sermão do velho guia. Lute pela paz ele dizia, e mais adeptos adquiria... A História nunca provou se era santo ou embusteiro. Só se sabe que tinha o nome de Antônio Conselheiro. Sem falar que muitos têm a certeza, de que o "único remédio contra os males" são as inscrições do Profeta Gentileza.

Como os extremistas religiosos do Oriente Médio não há. Islâmicos, judeus e cristãos com uma adversidade étnica e cultural que vai além do que supus, que pouco se diferencia do sermão dos pastores evangélicos a caminho da luz... onde tudo é pecado ou está amarrado em nome de Jesus.

Os seguidores de Bin Laden, estes não dão pausa... Explodem-se contra o sistema na luta por uma causa.

Dada a complexidade do assunto, tem até quem duvide que Vicente Van Gogh tenha sido esse gênio glorioso, devido ao seu extremo fanatismo religioso.Tem de tudo um pouco. Até os mais irreverentes dos povos, como, por exemplo,os brasileiros no seu trato diário com Deus. É curioso, "mas tudo que se faz na terra se coloca Deus no meio, Deus já deve está de saco cheio: deus lhe pague, deus lhe guie, deus lhe abençoe, Deus é vosso pai, é vosso guia..."

Uma espécie de doutrina os conduz... A "febre fanática" não se restringe somente ao campo religioso, também ganha dimensão nos estádios de futebol, com as torcidas organizadas; em campanhas políticas; em grandes shows, com fãs histéricas mostrando cartazes e vestindo-se como os seus ídolos, entre os amantes de chocolates, colecionadores, consumistas e repousa sobre a paixão de inúmeros sambistas, apaixonados por suas escolas de samba. Sem esquecer daqueles que não se importam com enormes filas para arriscar a sorte, acreditando que ganharão milhões com apenas alguns trocados...

No ritmo e no alcance da comunicação, em séries ao longo de cadeias sinápticas, o velho neurônio faz as suas considerações finais:

A humanidade é fanática? Ou o homem é realmente fruto do meio? Não seria essa mesma humanidade que perderia parte da sua defesa psíquico-emocionalcom o avanço do "capitalismo selvagem", que o próprio homem e sua tecnologia não temeram irracionalmente em suplantá-la, que tem as respostas para um "permissivo fanatismo"?

Corpo sarado é a certeza da busca fanática pela beleza, em detrimento da sua própria origem?

Quem administra os "paraísos fiscais" com suas "cédulas abençoadas" longe dos pregões, juros e até poupanças, apoiados por exorbitantes acúmulos financeiros: corruptos ou fanáticos por dinheiro?

E o título de poder para suas periódicas descobertas, que, fanaticamente, experimentam ao invés de descobrirem definitivamente a cura do Câncer ou da AIDS?
Seja você fanático ou não, por alguma causa, coisa, natural ou artificial, objetiva ou subjetiva, não importa. Viva! E faça do seu pensamento mais uma possibilidade de transformação da vida humana.

Era uma vez... o enigmático encéfalo!
Razão, emoção e fé...tomam conta da nossa mente carnavalesca.
A Caprichosos de Pilares pede passagem para contar, em forma de samba, o enredo "Fanatismo: enigma da mente humana", nesse encontro mágico e poético chamado
carnaval.
Marcos Roza, pesquisador de enredos.

ATENÇÃO COMPOSITORES! VAI COMEÇAR OUTRA VEZ... Sinopse da São Clemente para 2013



Horário Nobre

''Tira o telefone do gancho, a gente se vê depois da novela.
Não estou, não aceito convite, que ninguém fale comigo.
Quero lagrimar, sorrir, torcer pelo par romântico, felizes para sempre!''

No ar: novela e desfile de Escola de samba, dois triunfos da brasilidade que rodam o mundo inteiro, como gloriosas narrativas artísticas e populares, rituais que constroem a identidade do povão brazuca: ''Tamos'' juntos e misturados, porque não importa quem seja - patroa ou empregada, vovô ou netinho; preto do asfalto, branco da comunidade; na taba indígena, do Oiapoque ao Chuí, todos nos procuramos e nos reconhecemos na mais legitima arte verde e amarela, carnaval e folhetim.

Então vem comigo, me acompanha porque hoje eu sou novela: o ibope da São Clemente não para de crescer porque ela não desliga nunca! De folhetim em folhetim, há quase cinquenta anos, ouve-se ''silêncio no estúdio, gravando''. Pois agora vai ser ''barulho no estúdio, sambando! Valerá a pena me ver de novo.

Tem abertura, ações paralelas, história central. A trama novelesca é um repertório de clichês, porque a vida sempre imita a arte deste espelho mágico: o golpe da barriga, a criança prodígio, a mocinha  sofredora que vive sorrindo, metade do elenco trabalhando numa empresa familiar, e na beira da morte o segredo é revelado - a rica enjoada é teúda e manteúda, o bofe é tábua que leva prego, o tipo que parecia honesto é o maior corrupto. Vale tudo, desde que tenha empatia, pegue, emplaque! Tem estória de riqueza e pobreza, pode ser moderna e retratar o passado, pode ser num tempo que ainda não existiu, ou um reino que jamais existirá; tem pescador do litoral ou vaqueiro do interior, gente do campo, da cidade. Arquétipos que não morrem, eternos que são em nossos corações: personagens que até acabam, mas não desaparecem nunca! Viva tantos conhecidos amigos que habitam a memória emocional tupiniquim, porque todos nós temos em nossas famílias, alguém que é a cara do personagem daquela novela, como era mesmo o nome? Seja pelo carisma que despertou, por uma tirada cômica ou até pela maldade extrema, tudo termina bem, porque a gente vai sempre se ver por aqui.

Uma emoção plimplinizada na Sapucaí, que hoje vira telinha de fábrica de sonhos: anunciando que vem aí mais um campeão de audiência, nossa Escola samba o produto que mais faz a cabeça do Brasil, em credibilidade e legitimação, pois além, de assistir, a gente repete que nem papagaio o bordão da novela que gruda que nem chiclete, donde se conclui que isso não é brinquedo, não: em todas as esquinas é ''inshalá, muito ouro!'' pra cá, ''na chon'' pra lá. Tô certo ou to errado? Tô podendo... E quem fala, se veste, se penteia e se maquia igual aos habitantes deste mundo mágico (quase real), que lança moda transformando milhares de cidadãs em Jade ou Maya (dá-lhe lápis de olho e rímel para marcar os olhos) que vão expor seus corpos na Medina ou em Saramandaia Malta. É só dar uma olhadinha na barraca do camelô: não esqueça salto alto e meias de lurex para ir a Discoteca, porque se o figurino da TV ganhou as ruas, é sinal de que a trama ''vingou''.

Se é para citar alguns, rápido vem a cabeça: o Brasil e um Bataclã, Sucupira é Brasília e Odorico Paraguassú mora no Congresso Nacional! João Coragem ficou com qual das três Glória Menezes? Ravengar tem caso com a Rainha Valentine? Gabriela não podia ter traído Seu Nachib; Ih, a Perpétua é Careca, Tieta arrancou-lhe a peruca; Natasha era uma vampira muito gostosa, e Isaura, uma escrava que nasceu branca. E pela última vez, quem matou a praga da Odete Roitman ou o querido Salomão Hayala? É que sem um bom vilão não tem namoradinha do Brasil que sobreviva, porque maldade e bondade são irmãs gêmeas (tipo Rute e Raquel) deste universo verossímil, ainda que nele, a gorda Dona Redonda possa explodir, e muita gente voltar da morte.

Como será que termina? O último capítulo é um frisson nacional, a opinião pública mobilizada com todo Brasil parado diante da televisão: vilão castigado (morre, enlouquece, se arrepende ou foge) e cena de casamento do mocinho com a heroína (só podem ficar juntos no final). Todo brasileiro tem um pouco de autor de dramalhão, até desconfia como termina, mas isso não tem a menor importância. As cenas da próxima novela mostram que na segunda-feira começa tudo de novo, e não percam o primeiro capítulo.

Somos os filhos de Janete e Dias, sobrinhos de Ivani! Tomara Deus, o Beato Salú e a Venus Platinada, que nunca deixaram de nascer os maravilhosos autores. Semeadores do sonho, são criadores que democratizam as questões urgentes para o nosso povo (drogas, aids, trabalho infantil, coronelismo, reforma agrária, corrupção política, minorias, racismo etc), e ajudam essa galera a compreender sua maravilhosa gênese de ser: tudo brasileiro noveleiro, cujas vidas são obras em aberto, assim como as novelas.

Milton Cunha, a partir da ideia de Roberto Almeida Gomes.