quinta-feira, 19 de julho de 2012

ATENÇÃO COMPOSITORES...VAI COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ! Sinopse da Alegria da Zona Sul para 2013




"Quem não chora, não mama..."
Confetes coloridos caem como gotas de chuva do céu. As serpentinas, frágeis tiras de papel se enrolam entre nós dois e dessa forma ficamos cada vez mais próximos. Eu sou o seu pierrot e você a minha colombina mágica e misteriosa no seu vestido de bolas pretas. Assim, nasceu a ideia do nome do cordão de carnaval mais antigo do Rio de Janeiro e tudo isso começa lá na virada para o ano de 1918, em pleno réveillon carioca!
Jovens esportistas e alguns nem tanto, na sua maior parte associados do Clube dos Democráticos todos com o mesmo gosto pela cerveja gelada, mulher bonita e simples diversão no carnaval, capitaneados pelo senhor Álvaro de Oliveira mais conhecido como K. Veirinha ou Trinca Espinha e um senhor de nome Chico Brício, se juntam pelos bares da Galeria Cruzeiro e contra a nova ordem do chefe de polícia, (o mesmo do samba "Pelo telefone" do saudoso Donga) que queria proibir com cassação e até mesmo prisão, os grupos e cordões que perturbassem a ordem pública, criam o cordão, inicialmente com um baile "Maxixético e rebolativo!"- assim dizia no convite, na sede alugada do Clube dos Políticos, na rua do Passeio. Mais tarde o cordão saia pelas ruas da cidade, em calhambeques antigos e o povo fantasiado, cantado sem parar.
Primeiro as grandes sociedades e corsos frequentada pelas camadas mais ilustres, depois a pequena burguesia que se contentava com os ranchos e o seu lirismo romântico. E para os pobres e negros o que sobrava? A farra, os blocos e cordões que arrastavam o povo pelas ruas estreitas dessa cidade!
Nos cafés o charme das madames e o galanteio dos elegantes cidadãos. Nos salões Sinhô era sucesso, assim como a polca e o samba chorado. Em terreiros, já se ouvia os bons partidos de samba de batuque e o anúncio de que vinha coisa boa por aí. Daí para ficar tudo mais gostoso, tinha o glamour dos anos 20 que arrebatava os poetas e cantadores. Começava a se sentir que a cadência do samba também combinava com o jeitinho francês, que invadia esse Rio de Janeiro de meu Deus! Juntando tudo isso e ainda mais a frenética cultura que fazia a cidade ferver e borbulhar... pronto, é igual a fórmula do sucesso: um bloco de rua!
Não qualquer bloco! Era o bloco carnavalesco Cordão da Bola Preta. E os jovens queriam apenas fundar um cordão chamado "Só se bebe água". Mas, inspirados no vestido da tal colombina que deixou o pierrot a ver literalmente navios, mudaram de nome. E ganharam a fama e o amor de todos os foliões que se tornaram "bolapretenses".
Assim que inaugurado, em princípio, só saía no carnaval. Depois, começou durante todos os anos muito badalo, farra e alegria nas dependências muito bem frequentadas do clube. Feijoadas concorridas, festas de batuque, bailes dançantes, shows musicais com cantores da época, concursos de todos os tipos. O Bola Preta era o point predileto da dita boa e formosa sociedade carioca, ali se vivia o melhor samba, a pura diversão e uma tal felicidade rasgada, sem fronteiras nem eiras, mas sempre mantendo os bons costumes pedidos do salão.
Os anos vão sendo contados através dos carnavais brincados. E quando chegava a festa de Momo, ahh, ai sim, o bloco vinha pra rua, com tudo que tinha direito! Havaianas com saruel coloridos e flores de lisolene se encontravam com piratas de capa e espada, mas sem olho de vidro e perna de pau. Tirolesas com suas perucas louras não necessariamente andavam com alemães, víamos muitas de braços e laços com caveirinhas enfezados. Diabinhos travavam guerras de lança perfume com românticos dominós. Os bate bolas multicoloridos metiam medo nas crianças fantasiadas de anjinhos e palhaços de fita. Já os índios, batiam martelos de plástico na cabeça das melindrosas que só queriam cantar e se divertir ao som da banda carnavalesca que tocava sem parar.
Os instrumentos de sopro, acorde e percussão se juntavam e orquestravam as mais famosas marchinhas, eram os grandes sucesso das rádios de todo o país, o Bola influenciou até as marchas que ficariam ou não famosas na MBP da época. Senhoras de leque na mão se abanavam, homens mais recatados não deixavam perder o tom. Assim ficamos sabendo que a jardineira estava triste com a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu. Oh abre alas que eu quero passar. Ai mamãe, dá logo à chupeta pro neném não chorar! Allah-lá-ô, Allah-lá-ô, ôô, mas que calor ô ô. Era um rio de 40 graus, ou mais. E ei você ai, me dá um dinheiro aí?
Ô nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia? O teu cabelo não nega mesmo, mas me diz, qual é o pente que te penteia, hein? Taí eu fiz tudo pra você gostar de mim...Nessa cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa que até hoje é o coração do meu Brasil.
Assim o bloco ia pelas ruas do centro da cidade arrastando multidões. Homens se vestem de mulher, mulher vira valentão, a imaginação é liberada e a criatividade é premiada para quem ganhar o concurso do mais original folião. Lindas decorações compunham o cenário das ruas do centro e imediações da Cinelândia, local de partida dos desfiles do bloco, para o deslumbre visual.
Era dar um beijo apaixonado na sua amada e olhar para o céu e admirar os estandartes que enfeitavam as ruas. Era dar um gole na alegria, na ilusão, na bebida e admirar o colorido da decoração. Desciam do céu lindos adornos que emolduravam a folia, tal qual caricatura ou charge . Ou um quadro de algum pintor famoso da época.
E se fossem estandartes afro? E se "Yemanjá e seu espelho - O bairro do pelourinho na Bahia" tivessem vencido o concurso? Fernando Pamplona e Nilson Pena tiveram sua ousadia reprimida ao participarem do concurso da prefeitura. Caretice. Tolice. Vai entender a política ou pensamento de quem reprime? Afirmaram que o folclore nacional era indigno de ser decoração. O que é o Bola, afinal, senão folclore diverso da alegria etílico-momesca nacional? Mas depois isso, tudo foi revisto e eles acabaram ganhando o concurso e mais tarde Pamplona traz toda a sua inspiração para o desfile do Acadêmicos do Salgueiro.
Mas nem com toda polêmica o Bola Preta deixou de passar! Muito confete caiu ao longo desses anos, muita água de cheiro se jogou e o arlequim continua chorando pelo amor da colombina no meio da multidão. Hoje, o bloco arrasta mais de dois milhões de foliões pelas ruas dessa cidade, nas manhãs de sábado de carnaval.
Turistas que tentam registrar com suas máquinas ou celulares, essa transe que acontece com os foliões do bloco Cordão da Bola Preta. Crianças brincam sem parar, os mais jovens vão para se ajeitar com as "gatetes" do momento, artistas e políticos não podem deixar de frequentar e os velhos não ficam sentados, se animam, se levantam e vão sambar!
É uma catarse, uma overdose de alegria, que junta sambistas com animação e suor. E o querido Bola que surgiu de um protesto contra uma proibição, virou patrimônio histórico cultural da cidade do Rio de Janeiro. Dessa forma, no seu desfile de folia, trabalhadores se libertam das regras do seu dia a dia e investem naquela paquera, acompanhados pela estúpida cerveja gelada. Os doidos camelôs tentam ganhar os últimos trocados para os momentos da festa profana. É uma procissão, diria uma comunhão de alegria, com hora para começar e terminar ao som da Banda Show e o lema de fazer e incentivar o carnaval de rua e não deixar a música popular brasileira morrer. É mais que um bloco, é um manifesto sócio cultural que une, congrega, aclama e propaga a paz o amor e a folia! Assim o Bola se torna o maior representante desse jeitão irreverente de ser carioca!
Rainhas famosas são coroadas, princesas garbosas reinam nos quatro dias de festejo e o Grêmio Recreativo Escola de Samba Alegria da Zona Sul nesses 20 anos de sua existência e resistência ao verdadeiro carnaval carioca, tem a honra de contar e homenagear em tema de enredo, os 95 anos de história do bloco carnavalesco Cordão da Bola Preta, a mais antiga instituição do carnaval carioca.
Hoje, com licença da nossa respeitada velha guarda, as nossas baianas rodopiaram com mais garra, mulatas e passistas formam o famoso triangulo com pandeiros, tão esquecido nos desfiles de escola de samba e todos se juntam para homenagear o querido Bola. E nós anônimos, porém animadíssimos foliões cariocas, vamos cantar em alto e bom som que:
"Quem não chora não mama, segura meu bem a chupeta. Lugar quente é na cama, ou então no Bola Preta. Vem pro Bola meu bem com alegria infernal. Todos são de coração, todos são de coração foliões do carnaval! Sensacional!"- (Nelson Barbosa/Vicente Paiva - 1962)
Para todos que acreditam na resistência do carnaval carioca, do tema de enredo folião acima de qualquer dinheiro e para aquele que quebrou as regras dos desfiles das escolas de samba na cidade do Rio de Janeiro, Fernando Pamplona.
Texto e pesquisa : Eduardo Gonçalves
Agradecimentos e colaboração : Eduardo Nunes, Fábio Fabato e Vinicius Ferreira Natal.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

ATENÇÃO COMPOSITORES! VAI COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ...Sinopse da Caprichosos de Pilares 2013


Ao mestre do riso com carinho: as caras do Brasil

Quis Deus que Chico Anysio descansasse, para alegria de todo o céu e tristeza nossa!

Mas este, definitivamente, não é um enredo de morte ou homenagem póstuma, mas um enredo de vida!

Porque muito, muito além da despedida terrena, há uma vida inteira de dedicação ao humor, à alegria e ao entretenimento. Uma vida inteira em celebração à gaiatice e ao fazer rir com criações únicas e sem apelações gratuitas, aproveitando-se apenas da inteligência e da sensibilidade de um gênio.

Hoje, nesta merecida homenagem, vamos vencer a tristeza e fazer da alegria o nosso troféu. No lugar da dor e do lamento, vamos imaginar, neste momento, a chegada de Chico Anysio no céu!

Se aqui na Terra o nordeste vestiu luto e o Brasil todo sofreu, em contraste houve uma festa na Mansão Superior. Muitos risos e gargalhadas, uma euforia danada para a chegada do mestre do humor.

Sim, porque no céu houve imensa alegria quando correu o aviso:"Afinem os clarins e trombetas, porque está chegando ao paraíso o grande gênio do riso".

Vocês não imaginam o rebuliço que a notícia causou. Eram tantos anjos, arcanjos, querubins e, assim meio de mansinho, também foram chegando Oscarito, Grande Otelo, Zezé Macedo e Nair Belo. Eram tantas almas agradecidas, uma alegria sem igual, que o céu parecia um carnaval.

E o humorista querido, cearense reluzente, não chegou sozinho, veio com ele muita gente.

Havia personagens de montão, cada um mais diferente, todos filhos legítimos do coração.

Azambuja, Coalhada e Pantaleão. Painho, Salomé e Bozó. Bento carneiro, Justo Veríssimo, Haroldo, Tavares e Popó.

Nem mesmo os anjos do céu conseguiam explicar como que tanta gente era filho de um homem só.

Certamente os anjos não sabiam ou ainda não haviam descoberto, que apesar da saudade deixada na Terra, Chico ainda vive entre nós.

Chico vive em cada sorriso estampado no rosto do nosso povo, na irônica abordagem, no humor inteligente e na riqueza das imagens dos seus 209 personagens.

Chico vive porque não se limitou a viver, mas a montar vidas diversas, raramente parecidas, geralmente às avessas. Não apenas tipos de corpo inteiro, materializados através de suas diferentes faces, mas outros tantos memoráveis criados em parcerias infindáveis com o povo brasileiro.

E vive o escritor, o compositor, o pintor, a genialidade; porque o talento é a nossa alma, é o espírito que nos faz imortal e, dessa forma, sobrevive ao corpo porque pertence à eternidade.

Hoje, querido Chico, deixe que o céu fique um pouco mais triste sem sua presença e venha matar nossas saudades! Venha para receber deste povo, que sempre foi sua inspiração, esta merecida homenagem e os legítimos aplausos.

Chico vive!

Cid Carvalho

Agradecimentos à:
Rodrigo Ferreira pela pesquisa e apoio.
Elano Paula e Rouxinol do Rinaré pela inspiração.
Obs: Já li algumas vezes e ouvi outras tantas que Chico Anysio era Ateu.
Mas vejam se não tenho razão: quem viveu transmitindo alegria, morrendo não estará com Deus?

MOVIMENTO SAMBA NA FONTE... 6 ANOS DE HISTÓRIA!

terça-feira, 10 de julho de 2012

ATENÇÃO COMPOSITORES! VAI COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ...Sinopse da Unidos de Vila Isabel para 2013.



AUTORES DO ENREDO: ROSA MAGALHÃES, ALEX VARELA E
MARTINHO DA VILA
TÍTULO DO ENREDO: A VILA CANTA O BRASIL CELEIRO DO MUNDO - "ÁGUA NO FEIJÃO, QUE CHEGOU MAIS UM..."

SINOPSE DO ENREDO

O trabalho no campo é fruto de muito suor, dedicação e amor pela terra, os quais permitiram que o Brasil se tornasse um destaque na agricultura mundial, caminhando a passos largos para a condição de principal país agrícola do planeta.

Essa dedicação às atividades rurais gera milhões de empregos e riquezas, colaborando para a grandeza do nosso país. A prosperidade nacional se deve aos milhões de homens, mulheres e jovens que se dedicam ao cultivo de nosso solo fértil.

O brasileiro tem fama de ser hospitaleiro e cordial. É bem verdade que um cafezinho já serve pra quebrar o gelo nas reuniões, pra esticar uma conversa, na mesa, depois da refeição. E aquela visita inesperada ou convidado de última hora, sempre é bem-vindo. Afinal de contas, onde come um comem dois, ou sempre podemos botar "água no feijão, que chegou mais um...". (Jorginho do Império).

A natureza generosa nos dá o feijão nosso de cada dia, o trigo do pão também, e o milho de fubá, e o arroz, e a cebola pra temperar, o alho, e a mandioca para fazer farinha, pra acompanhar...

"No recanto onde moro, é uma linda passarela
O carijó canta cedo, bem pertinho da janela
Eu levanto quando bate o sininho da capela.
E lá vou pro meu roçado, tendo Deus de sentinela
Tem dia que meu almoço, é um pão com mortadela,
Mas lá do meu ranchinho, a mulher e os filhinhos,
Tem franguinho na panela" (Lourenço e Lourival).

"Que vidinha simples, que vidinha boa
A bóia é sagrado frango e quiabo
Acompanhado de ovo caipira, arroz e feijão
Depois do almoço sem muito esforço
Encosto meu corpo no barracão". (João Carneiro e Capataz)

"Esse mundo natural pródigo é o orgulho do país. Da terra vem a riqueza da nação. É do solo que nasce o engrandecimento da pátria. É dos produtos oferecidos pelos seus verdes lindos campos que conseguirá progredir. Portanto, é das suas terras, imensas e extensas, que a providência divina ofertou, que virá a sua transformação em celeiro agrícola da humanidade: a maior região produtora, fornecedora e abastecedora de alimentos do planeta terra.

E quem será o responsável por cuidar do seu solo fértil? O agricultor, esse trabalhador extraordinário, arrojado, competente, que tem na terra o seu precioso bem. O homem do campo terá a missão de torná-la próspera, inseri-la no concerto das nações civilizadas, ampliando os cultivos, sem jamais destruir a natureza, os verdejantes bosques. Dos produtos agrícolas, virá a transformação do Planeta Faminto, num mundo de mesa farta e sonhos possíveis.

"Enquanto uns fazem guerra
Trazendo fome e tristeza,
Minha luta é com a terra
Pra não faltar pão na mesa" (Joel Marques e Maracaí)

"Mulher, você vai gostar
To levando uns amigos pra conversar
Eles vão com uma fome que nem me contem,
E vão com uma sede de anteontem,
E vamos botar água no feijão..." (Chico Buarque)

Eis a terra sustentável por natureza, e que pode ser mais. Afinal, aqui por estas bandas... "tudo que se planta dá". Mas com o pensamento voltado para as necessidades dos comensais do grande banquete diário e os anseios do planeta onde vivemos, sem afetar as possibilidades de onde viverão os nossos filhos e netos, aproveitando com inteligência, cada palmo deste chão. Multiplicai os alimentos, mas sem ampliar as áreas de cultivo!

"Eu tenho um coqueiro grande que só dá coquinho...
Quando eu quero um coco grande, tem que ser do coqueirinho...".

Tamanho nem sempre é documento. Precisamos aprender com o coqueirinho, a aproveitar cada centímetro da plantação, produzindo mais, com astúcia. Para não desgastar os solos, a solução é o plantio feito na palha de culturas anteriores!

Várias etnias se agregaram às três raças formadoras da nação - o branco, o negro e o índio - para formar a nossa tradição agrícola.

Imigrantes, como os alemães, os japoneses, e os italianos, e outros em menores grupos, se dedicaram igualmente à agricultura.

Assim como a agricultura, a música do campo é a origem do Brasil.

"moda bem tocada é aquela que desperta em nós uma saudade que
agente nem sabe do quê...".

O som da viola canta a música do campo e conta a história daqueles que vivem da terra, que lutam, que prosperam e fazem o país crescer.

A moda de viola trás a saudade dos tempos de outrora, mostra a vida cantada em versos simples e retrata a obra magnífica do homem do campo, do agricultor que com afinco, dedicação e conhecimento transforma a terra em riqueza.

Segundo Câmara Cascudo, "somos filhos de raças cantadeiras e dançarinas", o que ajudou na estruturação da música do campo.

O violeiro é aquele que por instinto lê os sinais da natureza e os interpretam. Tem na sentimentalidade a bússola com que se orienta no mundo. É um artista que, nas asas da tradição, canta querências e saberes poetizados.

"passo por cima das nuve
Esbarrando no trovão
Danço no meio da chuva
Bem no meio do clarão..." (Lourival dos Santos e Priminho)

A primeira fábrica de viola nasceu na fazenda Córrego da Figueira,
em Campo Triste, fábrica de viola da marca Xadrez.

"Na Fazenda Figueira
O Dego e o seu irmão
Entraro na mata virge
A procura de madera
Pra fazê uma viola
E já fizero a primeira" (Antonio Paulino)

"Esta viola vermelha
Cor de bandeira de guerra
Cor de sangue de caboclo
Cor de poeira da terra". (Tião Carreiro e Jesus Belmiro)

"O som da viola bateu
No meu peito doeu meu irmão
Assim eu me fiz contador
Sem nenhum professor". (Peão Carreiro e Zé Paulo)

"Ai, a viola me conhece
Que eu não posso cantá só
Se eu sozinho canto bem
Em junto canto mió" (Carreirinho)

"Minha viola
Ta chorando com razão
Por causa duma marvada
Que roubou meu coração". (Noel Rosa)

O mundo da música é o da alma humana, e esta, na cidade ou no campo, não tem limite. A poesia se entrelaça com as paisagens, e as paisagens com os sentimentos.

"O rio Piracicaba vai jogar água pra fora
Quando chegar a água
Dos olhos de alguém que chora
Pertinho da minha casa
Já formou uma lagoa
Com lágrimas dos meus olhos,
Por causa de uma pessoa". (Lourival dos Santos, Tião Carreiro, e
Piraci)

"Eu fiz promessa
Pra que Deus mandasse chuva
Pra crescer a plantação".
O povo recorre a promessas quando a chuva não vem. Neste caso, a
promessa foi paga com três pingos...
"Um, foi o pingo da chuva,
Dois caiu do meu oiá". (Raul Torres e João Pacífico)

Até os santos ficam de castigo, sendo trocados de Igreja, talvez pra prestarem mais atenção pros problemas do campo.

"São José de Porcelana foi morar
Na matriz da Imaculada Conceição
A Conceição, incomodada,
Vai ouvir nossa oração
Nos livrar da seca, da enxurrada
Da estação ruim.
Barromeu pedra sabão vai pro altar
Pertence a estrela mãe de Nazaré
A Nazaré vai de jumento
Pro mosteiro de São João
E o evangelista, pra basílica de S. José
Se a vida mesmo assim não melhorar
Santo que quiser voltar pra casa
Só se for a pé". (Chico Buarque)

Os animais e as plantas também são assuntos recorrentes das modas
de viola.

"Canta, canta Bem-te-vi
Pra mim ouvir
Canta, canta sabiá
Pra me consolar" (Alvarenga e Ranchinho)

"Quero ouvir a siriema
Cantar por ti, Iracema
No nosso jardim em flor". (Mario Zan)

"Comprei um casco chapeado
Uma baldrana macia
Um colchonilho dos brancos
Pra minha besta rosia
Um peitoral de argolinha
E uma estrela que bria
Fui dá uma passeio em Tupã
Só pra vê o que acontecia". (Anacleto Rosas Júnior e Arlindo Pinto)

A música do homem do campo tomou grande impulso de divulgação nos anos vinte do século passado, graças as primeiras gravações. Hoje, a música é divulgadíssima. São realizados grandes shows. Os temas também evoluem, as técnicas de plantação também se sofisticam, mas a alma que os embala é a mesma, a alma caipira e brasileira.

"Baile na roça, meu bem, se dança assim,
Pego na cintura dela e ela tarraca em mim
E o sanfoneiro toca, toca alegria,
Vamo, vamo minha gente até o clarear do dia
Dança, dança com a morena, dança, dança, com a loirinha,
Começa o baile na tuia e termina na cozinha.
Viva o baile da roça, viva a noite de S. João
E o povo brasileiro conservando a tradição". (Tunico e Tinoco)

Hoje, o samba, homenageia o agricultor! Os sambistas celebram e eternizam esse personagem de real valor! A viola se junta aos pandeiros, chocalhos e surdos de primeira, para unir a cultura do sambista com a do homem do campo, numa grande festa de celebração da colheita. E, neste palco iluminado, por confetes e serpentinas, a Vila de Noel e de Martinho vem homenagear essa figura notória, original e bem brasileira: o agricultor. Ele merece o nosso respeito!!! É o agricultor brasileiro ajudando a alimentar o mundo!!!

Autores do Enredo: Rosa Magalhães (Carnavalesca), Alex Varela (historiador) & Martinho da Vila.

MESTRE ALUISIO MACHADO, Rio, 20/07/12, GRÁTIS

sábado, 7 de julho de 2012

ATENÇÃO COMPOSITORES! VAI COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ! Sinopse da Unidos da Tijuca para 2013


A Unidos da Tijuca mostra, em 2013, ano da Alemanha no Brasil, todo o encanto da cultura alemã e sua importância na história da humanidade. A contribuição desse país, que é uma das maiores potências do planeta, atravessa todos os campos do conhecimento: ciência e tecnologia; arte e cultura. Para celebrar esse encontro e conquistar a Avenida num instante, um raio cruza a passarela e aproxima dois mundos tão distantes. Odin envia seu filho, o poderoso Thor, para conduzir seres mágicos dos tempos pagãos, anões e gigantes, dragões e duendes, elfos e gnomos pela Sapucaí e revelar a força da influência alemã. Esses conhecidos personagens inspiram até hoje as mais diversas produções artísticas. Habitantes de florestas sombrias brincam com a imaginação humana, atiçam a curiosidade, impondo oráculos e segredos, construindo um imaginário misterioso e caótico que só os deuses podem controlar. Os personagens da mitologia nórdica foram amplamente divulgados pela Alemanha e alimentam histórias extraordinárias entre homens e divindades.

Essa força criativa produz obras revolucionárias e revela grandes nomes que povoam a galeria de gênios da arte e da cultura que inspiram autores no mundo inteiro: as sinfonias de Beethoven; o teatro crítico de Bertolt Bretch, que desfila mendigos, bandidos, prostitutas e vigaristas; a literatura de Goethe e o mito de Fausto, que vende sua alma ao diabo para satisfazer seus desejos impossíveis. Das telas do cinema alemão dos anos de 1930, surge O Anjo Azul, um típico cabaré em sua atmosfera nebulosa de sedução e prazer.

De onde vem tanta criatividade? Que outros lugares e personagens fantásticos de nossa infância foram recolhidos às páginas dos livros e se tornaram universais para povoar todos os mundos em todas as linguagens? Era uma vez… um jeito de brincar a vida inteira para que nem o tempo se canse de recriar novas brincadeiras. Quem criou aqueles momentos de construir cidades, cenários e cenas onde pequenos personagens e peças são montados e desmontados para divertir as crianças?

Quem inventa encontra soluções simples ou descobre formas inovadoras de transformar. Ousa libertar a palavra presa aos manuscritos, torná-la impressa, ao alcance de todos. É capaz de aumentar a velocidade, provocar o deslocamento rápido, o desenvolvimento. O inventor coloca motor no automóvel, dispara como um foguete, como um raio! Novas tecnologias e descobertas levam a outros lugares e conquistam um futuro inventado, planejado.

E quem enfrentou o desafio de se antecipar, partir mais cedo e chegar nessas terras tão distantes num tempo em que atravessar não durava só um instante? Imigrantes aqui semearam os gostos de outra terra. Beberam, comeram e plantaram os frutos da Alemanha. E misturaram isso tudo no país que tudo mistura. Vai trovejar na Avenida e cair raio o ano inteiro pra festejar a Alemanha desse jeito brasileiro!

Isabel Azevedo
Simone Martins
Ana Paula Trindade
Paulo Barros

ATENÇÃO COMPOSITORES! CONCURSO DE SAMBA EU AMO O RIO DE JANEIRO




Informações e regulamento, acesse: http://www.cultne.com.br/noticias/?p=457

quarta-feira, 4 de julho de 2012

ATENÇÃO COMPOSITORES...VAI COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ! Sinopse da Unidos do Cabuçu para 2013


"que beleza de enredo- LUIZ FERNANDO".


S.E.R.E.S. UNIDOS DO CABUÇU 2013
O MESTRE SALA DOS MARES
Por Laerte Gulini e Clebson Prates

"Há muito tempo nas águas da Guanabara... O dragão do mar reapareceu... Na figura de um bravo Marinheiro... a quem a história não esqueceu..."

No início do século XX, precisamente no ano de 1910, durante alguns dias, mais de dois mil marujos movimentaram a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, ao tomarem posse de navios de guerra para exigir o fim dos castigos corporais através da chibata na Marinha do Brasil.

Liderados por João Cândido Felisberto, um filho de ex-escravos e timoneiro da Marinha Brasileira que aos 14 anos entra para a Escola de Aprendizes de Marinheiros do Rio Grande do Sul, recomendado por um almirante, que se tornara seu protetor e logo desponta como líder e interlocutor dos marujos junto aos oficiais. Em 1910, um dia após a posse do Presidente Hermes da Fonseca, toda a tripulação do encouraçado Minas Gerais foi convocada para assistir à punição a um marinheiro, que ferira um cabo. As 250 chibatadas, aplicadas ao rufar de tambores, foram desferidas por um comandante conhecido pelo prazer com que chibatava seus subalternos. Assim, João Candido deu o grito que iniciou o levante. Esse episódio ficou conhecido como a Revolta da Chibata. Surgia um Dragão do Mar, um ser que é associado com as profundezas do mar desconhecido e que se pensava que era capaz de engolir navios. Surgia um símbolo da luta pelos direitos humanos e pela questão do preconceito racial.

"Conhecido como o Almirante Negro... Tinha a dignidade de um Mestre Sala..."

Foi designado à época, pela imprensa, como Almirante Negro. No ultimato dirigido ao Presidente Hermes da Fonseca, os revoltosos declararam: "Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira". A dignidade e elegância que, um Mestre Sala tem com sua Porta Bandeira era vista em João Candido em todos os meios que freqüentava e até na luta pela melhoria de condições de trabalho.

"E ao navegar pelo mar com seu bloco de fragatas... Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas... Jovens polacas e por batalhões de mulatas..."

Em 1910, João Cândido deu início ao levante contra a chibata, assumindo o comando do navio Minas Gerais, pleiteando a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra Brasileira. Por quatro dias, os navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro apontaram os seus canhões para a Capital Federal. Para o povo discriminado socialmente que convivia, João Candido era reconhecido como seu bravo líder.

"Rubras cascatas jorravam das costas dos negros pelas pontas das chibatas... Inundando o coração de toda tripulação... Que a exemplo do marinheiro gritava então..."

O sangue escorrendo pelas costas foi o estopim da revolta. João Candido com todo seu coração deu seu primeiro grito de revolta, seguindo seu exemplo, em todos navios, soltando o grito por liberdade.

Aqui começa a maior rigorosidade da censura à memória de João Cândido que foi resgatada na década de 70, no samba "O mestre-sala dos mares". Os compositores tiveram que fazer várias mudanças na letra, até que a censura a liberasse. Palavras como "marinheiro por feiticeiro", "almirante por navegante", "navegar por acenar" e frases inteiras como "dos negros pelas pontas das chibatas" por "dos santos entre cantos e chibatas" e "de toda a tripulação" por "o pessoal do porão" foram modificadas e que diferença fizeram.

"Glória aos piratas, às mulatas, às sereias... Glória à farofa, à cachaça, às baleias..".

Sobre a censura à música, os compositores contam: "Ouvimos ameaças veladas de que a Marinha não toleraria loas e um marinheiro que quebrou a hierarquia e matou oficiais. Fomos várias vezes censurados apesar das mudanças que fazíamos, tentando não mutilar o que considerávamos as idéias principais da letra. Minha última ida ao Departamento de Censura, ouvi um sujeito bancando o durão me gritando que "nós não estávamos entendendo... Estávamos trocando as palavras como revolta, sangue e perguntamos se ele poderia esclarecer melhor. Ouvimos, estarrecido a resposta "o problema é essa história de negro, negro, negro..."

Glória a todas as lutas inglórias... Que através da nossa história... Não esquecemos jamais..."

João Candido também foi preso e enviado para a prisão subterrânea da Ilha das Cobras. A falta de ventilação, a poeira do cal, o calor, a sede começaram a sufocar os presos, cujos gritos por socorro não adiantou João Cândido sobreviveu e continuou muito tempo na prisão. Atormentado por suas lembranças dos amigos mortos naquela prisão desumana, João Cândido é internado em um hospício. Aos poucos se restabelece, é solto e expulso da Marinha.

João Candido teve uma carreira extensa de viagens nacionais e por vários países do mundo nos 15 anos que pertenceu à instituição. Era o marinheiro mais experiente e respeitado pelos colegas e oficiais. Apesar disso, era contrário ao tratamento dado aos subalternos, penalidades que persistiam mesmo após a assinatura da Lei Áurea.

João Candido foi quem resgatou a simbologia do lenço na Marinha. Como os marinheiros mexiam com graxa, pólvora e devido ao suor, quando em batalha, o lenço era enrolado e amarrado na testa com o nó para trás e no dia a dia é virado com o nó pra frente em volta do pescoço. João Candido transformou o lenço branco desse rito em lenço preto.

"Salve o Almirante Negro... Que tem por monumento... As pedras pisadas do cais..."

Mesmo velho, pobre e doente, permaneceu sempre sob as vistas da Polícia e do Exército, por ser considerado um "subversivo" e perigoso "agitador".
João Cândido morre em 1969, aos 89 anos, como um simples vendedor de peixe. O líder da revolta da chibata terminou sempre perseguido, sem patente, sem aposentadoria e anônimo, ignorado pela História oficial. Sua figura é de um cidadão envolvido com a questão da luta de classe, direitos humanos e um agente transformador porque a Revolta da Chibata pôs fim aos castigos físicos na Marinha.

Este exemplo de construção coletiva de dignidade e respeito humano é o que precisa ficar para sempre na memória do povo brasileiro e por isso brademos por glória a todas as lutas inglórias de João Candido Felisberto, O Almirante Negro ou o Mestre Sala dos Mares, que através da nossa história não esqueceremos jamais.

ORDEM DE DESFILE:

Comissão de frente: Aos Marinheiros a chibata ao rufar dos tambores.
Setor 1 = Revolta da Chibata
Ala 1 (Baianas): À muito tempo nas águas da Guanabara
Abre Alas: O Dragão do Mar reapareceu.
Ala 2: Bravo Marinheiro Feiticeiro.
Ala 3: Timoneiro.
Ala 4: Levante da Chibata.
Destaque de chão: 250 Chibatadas.
Setor 2 = Dignidade de um Mestre Sala.
Tripé 1: Bloco de Fragatas.
Ala 5 (Passistas Femininas): Mulheres do Cais.
Primeiro Casal de MS/PB: Escravidão na Marinha do Brasil.
Ala 6 (Bateria): Almirante Negro
Ala 7 (Passistas Masculinos): Salve os Almirantes.
Ala 8: Censura Velada.
Ala 9: O Pessoal do Porão.
Setor 3 = O Mestre Sala dos Mares
Ala 10 O Lenço ficou preto.
Segundo Casal de MS/PB: Loucura na Ilha das Cobras
Tripé 2: Mestre Sala dos Mares.
Ala 11 Mestre Sala dos Mares.
Ala 12(Crianças): Glória aos piratas e às sereias.
Ala 13: Vendedor de peixe.
Ala 14: Glórias às todas as lutas inglórias.
Ala 15 (Compositores)
Ala 16 (Velha Guarda)